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  • Foto do escritorHugo Aguiar

Como lidar com a angústia do protagonista?

Atualizado: 31 de jul. de 2020

Muitas vezes nos pegamos escravos de uma angústia sem fim. Um sentimento que sequestra nossas energias, desvia nossa atenção e deixa-nos longe do protagonista consciente que almejamos nos tornar. A fé é o caminho da superação.


A angústia pode ser passiva, quando somos meros espectadores à espera de uma revelação sobre a qual não temos controle, e pode ser ativa, quando somos chamados a tomar decisões, a sermos os grandes protagonistas da nossa história. Vamos nos ater à angústia ativa, do protagonista, ao sentimento angustioso e paralisante que nos domina quando finalmente as cortinas da nossa vida se abrem. A angústia ativa nos paralisa no momento da ação, faz-nos desertar no instante mais caloroso da batalha, quando a vida nos pede altivez. Mas, afinal, de onde vem a angústia do protagonista? E como podemos lidar com esse sentimento aflitivo e paralisante? Para responder a essas perguntas, recorremos ao primeiro existencialista, o dinamarquês Søren Kierkegaard.


De acordo com o filósofo, em nossas vidas, buscamos sempre verdades, postulados em que acreditamos e que nos motivam. Nessa busca, a liberdade de escolha é um elemento central, para elegermos o que nos aproxima de nosso eu mais autêntico ou nos afasta de nós mesmos. E cada possibilidade de escolha advinda da liberdade tem a chance de ser benéfica ou desastrosa para a nossa existência. Somos resultados das nossas decisões, que são definidas em um instante, e, ao compreendermos a importância desse instante em nossa eternidade, assustamo-nos. Ficamos ainda mais assustados quando a nossa decisão, além de nos afetar, recai também sobre a eternidade de outras pessoas. É exatamente essa consciência de que somos responsáveis por nossas escolhas que nos gera a angústia do protagonista. Existir é escolher, e escolher é arriscar-se, e o risco leva à angústia.


Como sempre temos a possibilidade da escolha, a angústia do protagonista é um sentimento presente e constante em nossa existência, resta-nos compreendê-la e dominá-la. Para tanto, primeiramente, necessitamos reconhecer que ainda nos falta muita compreensão acerca da nossa essência. Entender nosso eu, nosso propósito de vida, nossos limites e nossas capacidades faz-se tarefa incontornável na batalha contra a angústia. Nessa jornada do autoconhecimento, nossa consciência necessita estar desperta, nossa memória ativa e nossa atenção viva, de modo que possamos sempre nos recordar de quem somos e nos atentar ao nosso dever. Ao atuar com a consciência desperta, reduziremos paulatinamente a angústia, pois teremos mais certeza das escolhas pelas quais devemos optar. Logo, o instante da decisão será tão menos angustioso quanto mais conscientes e seguros estivermos do propósito da nossa existência. A fé, nesse sentido, assume um espaço fundamental.


Kierkegaard divide a trajetória percorrida pelo homem em três estágios, quais sejam: o estético, o ético e o religioso. O primeiro dessa tríade é um estágio amoral, momento em que o indivíduo vive para alimentar seus desejos, sem regras que o limitem. O excesso em suas mais diversas manifestações conduz o homem ao desespero, e esse sentimento desolador cede espaço a uma vontade de pertencimento. O indivíduo, diante da necessidade de pertencer, alcança o estágio ético, fase em que se enquadra nas leis morais e éticas da sociedade em que está inserido. O homem submete-se às regras sociais, cumpre seu papel, mas não necessariamente encontra seu propósito de vida. Tal incompletude será preenchida com o salto da fé, que o conduzirá ao estágio religioso. A religião, exercida em seu aspecto mais genuíno, religará o homem ao seu íntimo e à força criadora, que podemos chamar de Deus. A fé, esse elo divino, indestrutível, direciona o indivíduo ao seu propósito, e, agindo conscientemente e em comunhão com algo que considera sagrado, o homem dominará, enfim, a angústia ativa, tomando para si o protagonismo de sua história, já que não haverá mais espaço para incertezas.


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