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  • Foto do escritorHugo Aguiar

Feira das Religiões: um chamado à convivência inter-religiosa na Escola

A Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque, em Lima Duarte, Minas Gerais, realizou a Feira das Religiões, projeto desenvolvido com o objetivo de estimular o conhecimento e o convívio inter-religioso. Uma boa prática que merece ser compartilhada e replicada!



No dia 23 de setembro, foi realizada a segunda edição da Feira das Religiões, na Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque, no município de Lima Duarte, em Minas Gerais. A iniciativa teve sua primeira edição no ano de 2018, sob a idealização e a coordenação da professora de ensino religioso Danielle Aparecida Arruda.  “A participação dos alunos foi massiva. Somente dois alunos não participaram de um universo de 560 estudantes”, conta a idealizadora, que se diz surpresa e feliz com a dedicação dos alunos na pesquisa e na execução dos trabalhos. O projeto tem como objetivo principal despertar a alteridade dos estudantes em relação ao diferente, refletindo acerca das diferenças e da validade de cada manifestação religiosa e cultural.  


A ideia de realizar uma feira de religiões surgiu quando a professora percebeu o interesse dos alunos pelas diversas agremiações religiosas. “Como cada turma estudava uma religião e fazia atividades diferentes, os estudantes tinham curiosidade sobre o que os colegas estavam aprendendo. Além disso, como o conhecimento sobre outras religiões, na cidade, que não aquelas de base cristã, parecia ser pouco, seria uma boa oportunidade para os próprios alunos apresentarem novas tradições religiosas”, explica Danielle. Durante três meses, os estudantes pesquisaram e desenvolveram projetos para apresentarem as religiões abrangidas. Pela escola, podia-se deparar com trabalhos sobre a cultura e religião tradicional da China, o Hinduísmo e a cultura da Índia, o Candomblé e religiões de matriz africana, as Testemunhas de Jeová e sobre o Islamismo e a cultura árabe. Os alunos representaram as tradições, por meio de dança, capoeira, confecção de tecidos e de mosaicos, comidas típicas, música e encenação.


Ao apresentarem a diversidade religiosa, os estudantes ressignificam conceitos de forma crítica e compreendem que todas as tradições exercem função importante para seus fiéis. “A feira foi desenvolvida para que os alunos colocassem em prática conhecimentos sobre as religiões que estudamos em sala”, e o estudo desenvolvido pela professora Danielle junto aos estudantes buscou “ampliar os horizontes e inserir uma investigação sociológica da religião, não aprofundando a análise sobre os dogmas, mas, sim, sobre a importância histórica que cada uma delas tem no mundo atual”. O resultado não poderia ser outro: envolvimento profundo dos alunos e mensagem prática de inclusão e de despertamento para a empatia. É a escola desempenhando seu papel fundacional de formar indivíduos conscientes, mais sábios, responsáveis e receptivos às diferenças.

A edição deste ano, coordenada pela professora de ensino religioso Cristiane Roberta Lippi, deu continuidade à bem sucedida primeira edição da Feira das Religiões.  Os alunos apresentaram, entre outros, o Espiritismo, o Protestantismo, o Budismo, as tradições dos povos indígenas, a mitologia grega e o Ateísmo, o que amplia o diálogo e expõe os estudantes às diversas manifestações religiosas. Nas semanas que antecederam o evento, os estudantes tiveram a oportunidade de se encontrar com representante do Islamismo, participaram de seminário judaico e de culto evangélico, assistiram palestras sobre a Doutrina Espírita, visitaram igrejas católicas, pesquisaram sobre os passos de Cristo e sobre a produção dos tapetes tradicionais das celebrações do Corpus Christi. A aproximação com o outro, com o diverso desmistifica estereótipos e constrói elos entre universos antes tão distantes. Segundo a professora Cristiane, a Feira alcançou o objetivo principal: promover a paz, o amor, o conhecimento e o respeito entre as pessoas e suas crenças diversas.


“Ampliar os horizontes e inserir uma investigação sociológica da religião, não aprofundando a análise sobre os dogmas, mas, sim, sobre a importância histórica que cada uma delas tem no mundo atual”

Conhecer culturas e tradições distintas, por intermédio de projetos como a Feira das Religiões, incentiva o despertamento crítico e aguça a curiosidade e o aprendizado nos alunos. João Gabriel Moreira Motta, estudante do 9º ano/8ª série, contou-nos sobre sua experiência na iniciativa escolar, relatando que gostou "muito de participar, de ver as apresentações dos grupos, as maquetes e as simulações, e de perceber que as religiões e as culturas são diferentes, cada uma com seu estilo, desde as vestimentas até o rigor de conduta”. João Gabriel conta que apresentou com sua turma o Hinduísmo e a festa Diwali, uma oportunidade de conhecer uma nova cultura, por meio de “uma experiência bem divertida”. “É um dia diferente na escola, e o aprendizado acaba sendo até melhor, pois não é focado na sala de aula, temos outras vivências como o chá indiano, que oferecemos aos visitantes. É muito gratificante”, celebra o aluno, que garante o entusiasmo de todos que participaram da feira.



Um projeto deste porte não se faz sem o apoio da direção escolar, que assume um papel essencial na condução das atividades e no suporte às necessidades inerentes à iniciativa. O diretor da Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque, Paulo Afonso Vieira, avaliou o projeto “de forma muito positiva”. Segundo o diretor, embora haja questionamentos de determinados líderes religiosos, ao final da Feira, todos compreendem o objetivo do trabalho e apoiam a iniciativa.  “A oportunidade de estudar e de conhecer sobre outras culturas, através da religião, é uma forma discreta e inteligente de propor sutilmente um diálogo inter-religioso, que poderá provocar reflexões que nos façam crescer”, argumenta Paulo Vieira.  

Quanto à viabilidade de exportar o projeto a outras instituições de ensino, o diretor pondera que “é importante observar a maturidade da Comunidade Escolar e verificar se a iniciativa não causará escândalo. Se a Escola mantém uma postura laica e atende com a mesma atenção todas as pessoas, independentemente de qualquer ideologia, pode propor e suportar atividades como uma "Feira das Religiões". É também fundamental a postura da Professora de Ensino Religioso, pois ela precisa realizar a atividade orientando muito bem, no sentido do respeito aos cultos e a postura ética de cada denominação religiosa”.  


“A oportunidade de estudar e de conhecer sobre outras culturas, através da religião, é uma forma discreta e inteligente de propor sutilmente um diálogo inter-religioso, que poderá provocar reflexões que nos façam crescer”

A temática ainda permanece muito sensível em nossa sociedade. Embora experienciemos uma cultura multiétnica, casos de intolerância não são raros, e, para mudarmos essa realidade, necessitamos de ações comunitárias e de iniciativas que atuem na base da formação do indivíduo, construindo um caráter social mais empático. A Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque tem sido exemplar nessa tarefa de edificação de uma nova sociedade, composta por cidadãos que percebem nas diferenças a grande riqueza de um povo. Nós, equipe Consciência Ecumênica, ao celebrarmos a construção de pontes e a convivência inter-religiosa, em toda sua diversidade e exuberância cultural, aplaudimos de pé a iniciativa da Feira das Religiões e todos os envolvidos. Que esse projeto se replique nas instituições de ensino e que possa ser a base de uma nova perspectiva, mais cosmopolita e humana. ■

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